quarta-feira, 7 de março de 2007

Espécie de entendimento lento

As relações entre as pessoas têm qualquer coisa de magia. Existem condicionantes espaço-temporais, condicionantes de personalidades, vivências, interesses... sem dúvida. Mas há algo mais que condiciona, e por vezes cataliza, as amizades, os nossos relacionamentos afectivos e até o nosso empenho neles. Algo quase místico e indiscernível de tudo o resto pelo raciocínio. Será uma reacção emergente do caos de complexidades que somos?

Cada afectividade tem a sua tonalidade, o seu ritmo e a sua energia. Penso que grande parte da inteligência social assenta sobre esse mesmo crivo: aprender quais as regras do jogo e jogar o melhor possível.

Isso faz-me deambular por ideias bem mais perigosas e traiçoeiras: Qual então o nosso interesse em jogar o jogo do afecto o melhor possível? E o do amor? O que nos espera em ganhos? E em perdas?

Fujo disso. Falta-me a coragem para pensar nisso. Sei por instinto que grande parte da felicidade se deve à incapacidade de consciencializar essas coisas. Procuro crer que essa incapacidade pode ser aprendida. Induzo-me portanto a um estado sedativo no que toca a este assunto.

Por agora, são coisas mais práticas que me interessam.

Certas amizades querem-se contidas. Talvez exista um rácio maximizante para cada relação. Um limiar de intimidade a partir do qual a relação se quebra. Ao longo das minhas vivências apercebi-me de que, por vezes, uma relação leve e descomprometida, pouco empenhada de ambas as partes, sem grandes aberturas, sem uma intimidade crescente e, portanto, estagnada, pode render muito mais que uma relação de entrega total.
Posso sentir muito mais prazer numa amizade contida, e creio fazê-lo amiúde, do que na maior parte das minhas relações de grande entrega. E sei que, com certas pessoas posso ter uma despreocupada amizade magnífica, que se perde com a intimidade, que entra em decadência, que apenas devolve dissabores e tristeza.

Então, porque é que temos a tendência para não perder uma oportunidade que seja de conhecer melhor uma pessoa? De avançar um pouco mais neste caminho imperscrutável?

Acaso somos uma espécie de entendimento lento?

Ou é este fatalismo que nos faz tão especiais?

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